Presidentes de associações lamentam o reducionismo da questão no debate eleitoral
O homoafetividade é o tema da vez. Os concorrentes à presidência da República José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) disputam o voto evangélico, que ficou sem candidato após Marina Silva cair no primeiro turno. Depois do aborto ser explorado até as últimas, Serra e Dilma foram questionados a respeitos das reivindicações do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). “É muito ruim que essa questão tenha entrado no debate político para servir de acusação de um candidato contra outro e não como plataforma de governo de nenhum dos dois”, diz o presidente eleito da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT) Ideraldo Beltrami.
Na quinta-feira 21, Serra mostrou-se favorável à união estável entre pessoas do mesmo sexo. “Acho que a questão do casamento propriamente dito está ligada às igrejas. A união em torno dos direitos civis já existe, inclusive, na prática, no Judiciário. Eu sou a favor do efeito do direito. Outra coisa é o casamento, que tem o componente religioso. Cabe a igreja decidir sua posição”, afirmou o tucano.
“O que é relativo à religião é o casamento entre homossexuais, união civil é uma questão de direitos civis”, disse a candidata petista em visita ao Piauí. Dilma também encontrou-se com líderes evangélicos, que cobraram a divulgação de uma carta aberta na qual ela se comprometeria a vetar a união homossexual. “O compromisso que assumo, posto que o Brasil é um Estado laico, é de jamais enviar legislação ou sancionar lei ao direito das religiões. O casamento entre homossexuais ou outra opção sexual é algo que ninguém pode interferir”, disse a petista. “Com certeza nenhum dos candidatos vai se mostrar completamente a favor dos direitos do nosso movimento porque vão perder votos, principalmente dos evangélicos”, afirma Beltrami.
“É um oportunismo muito grande essa discussão acontecer agora. As eleições não deveriam ser pautadas nisso. Está havendo um reducionismo da questão”, ressaltou o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis. “É importante que isso seja discutido no Congresso e não nas eleições”.
Hoje já existe uma bancada a favor dos direitos humanos, que abrange as reivindicações do movimento LGBT, garante Reis. “Inclusive dentro da bancada evangélica há políticos que defendem os nosso direitos. Tem alguns que são bastante fundamentalistas, outros não”. No pleito do dia 3 de outubro, o professor Jean Wyllys (PSOL) foi o primeiro político publicamente gay a ser eleito no País.
Parlamentares de 11 partidos diferentes mostraram-se a favor do projeto de lei 4914, que diz respeito a união estável entre pessoas do mesmo sexo. “Cabe indagar, por que tanta polêmica acerca do ‘casamento gay nas Igrejas’. Onde será que está escrito neste projeto de lei?”, diz Reis.
O projeto de lei 122 foi outro que deu o que falar. O projeto apresentado pela ex-deputada Federal Iara Bernardi (PT) visa criminalizar a discriminação a homossexuais. O candidato a vice Índio da Costa se mostrou contra ao declarar que, se aprovado, um dono de restaurante poderá ser preso se um casal gay quiser fazer sexo em seu estabelecimento e o proprietário não permitir. “Essa declaração do Índio da Costa não surpreende o movimento gay. Nacionalmente as pessoas não o conhecem, mas ele já é persona non grata no Rio de Janeiro”, ironiza Beltrami. “Esse projeto não se restringe somente à proteção da população LGBT, é um complemento a lei que criminaliza o racismo, abrangendo preconceito de raça, cor, religião, orientação sexual”, ressalta Reis.
Reis lembra que as reivindicações do movimento vêm amadurecendo na mentalidade do brasileiro. Ele aponta que em 1995 apenas 6% apoiavam a união estável e hoje cerca de 60% são a favor. “Não queremos destruir a família de ninguém, apenas queremos construir a nossa”.
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