08/09/2010 - 10h21
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GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A indústria farmacêutica está novamente no centro de um escândalo. Documentos confidenciais da gigante Wyeth --hoje incorporada à Pfizer-- mostram que a companhia sistematicamente plantava artigos favoráveis a seus medicamentos em periódicos científicos.
O caso mais emblemático é o do remédio Prempro, usado para reposição hormonal em mulheres na menopausa. Nos EUA, o produto gerou uma ação pública, movida por 14 mil pessoas, que acusam a droga de aumentar o risco de câncer de mama.
Para garantir opiniões positivas sobre a substância, a Wyeth pagava para empresas especializadas produzirem textos que ressaltassem suas qualidades --algumas não comprovadas-- e escondessem efeitos colaterais, como casos de câncer. O material pronto era oferecido a pesquisadores "de verdade", que assinavam como autores do trabalho. Essas "pesquisas" eram submetidas a diversos periódicos científicos, que publicavam o material como se fosse independente. Alguns acabaram em veículos renomados, como a "Archives of Internal Medicine". A mecânica completa do esquema é apresentada pela médica americana Adriane Fugh-Bergman, da Universidade Georgetown, na revista "PLoS Medicine". Fugh-Bergman se debruçou sobre 1.500 documentos confidencias da Wyeth --liberados sob ordem judicial para a revista. A papelada contém rascunhos de artigos, troca de e-mails e até a contabilidade do esquema. Em um dos e-mails, uma funcionária da DesignWrite --principal empresa contratada pela Wyeth-- descreve o trabalho a um pesquisador. "A beleza deste processo é que nós nos tornamos o seu pós-doutorando! Nós fornecemos um rascunho geral, ao qual você sugere mudanças e revisa. Nós então desenvolvemos um rascunho com os contornos gerais. Você tem todo o controle editorial sobre o trabalho, mas nós lhe forneceremos materiais para crítica e revisão." Segundo Fugh-Bergman, a realidade era bem diferente: eles só podiam fazer mudanças simples e que não descaracterizassem as mensagens de marketing pretendidas pela farmacêutica. IMORAL, E DAÍ? Usar "escritores fantasmas" não é ilegal, embora seja considerado antiético. As empresas aproveitam uma brecha na regulamentação nos EUA. A FDA (agência responsável pela liberação de remédios) não considera artigos científicos como marketing. Ou seja: o que acontece nesse espaço não faz parte da sua área de atuação. De acordo com o artigo, não existem evidências de que os autores foram pagos para assinar os trabalhos. OUTRO LADO A Pfizer, que comprou a Wyeth em janeiro de 2009, desqualificou as críticas de Adriane Fugh-Berman. "O artigo ignora completamente --e convenientemente-- o fato de que os manuscritos publicados estão sujeitos a uma rigorosa revisão por pares feita por especialistas externos (...) e que a sua integridade e rigor científico já foram reconhecidos em vários julgamentos", disse a empresa em nota. A Pfizer afirmou que tem uma rígida "política de transparência" científica. De acordo com a empresa, as pesquisas em que a companhia está envolvida sempre mencionam todas as contribuições e coautorias presentes no processo. A farmacêutica afirmou que empresas especializadas em escrever textos médicos "apenas auxiliam os autores a fazerem os rascunhos" e os cientistas têm "total controle sobre os trabalhos". |
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