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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Encontrada família que vivia isolada em caverna na Colômbia




Crianças da família Rosales ficaram tanto tempo isoladas que se comunicam em uma língua própria
13/09/2010 por Fantástico/G1
Em pleno século 21, uma família vivia isolada dentro de uma caverna:


Crianças maltrapilhas que nunca receberam nenhum corte de cabelo têm 5, 7 e 8 anos. São irmãs de um bebê de pouco mais de um ano e de outro ainda mais novo, de apenas três meses. Em pleno século 21, as crianças da família Rosales nasceram e foram criadas em uma caverna. Passaram tanto tempo isoladas que se comunicam em uma língua que só elas entendem.



Nossa jornada rumo ao estranho mundo da família Rosales começa em Bogotá, capital da Colômbia. São três horas de carro por estradas nem sempre em bom estado até o povoado de Turmequé, o mais próximo das cavernas onde as crianças nasceram e cresceram. Que gente é essa? Por que o isolamento? Fomos em busca de respostas.

A equipe do Fantástico sai de centro da vila de Turmequé para ir para a zona rural, onde as pessoas ainda vivem na caverna. Depois de subir a 2,6 mil metros de altitude, finalmente, nós chegamos perto da caverna. O pessoal da Defesa Civil vai nos guiar até o local.

Foram dois agendes da Defesa que comandaram o resgate das crianças em maio. O isolamento era tamanho que mesmo os vizinhos não sabiam que havia tantos filhos

“Achei que eram só dois. Eles não se comunicavam, não falavam com ninguém. Era como se vivessem na selva”, explicou a agricultora Maria Eva Contreras.

Depois de atravessar várias plantações, estamos bem perto das cavernas. O senhor Bernardo, que mora nas cavernas, muitas vezes, recebe com violência os visitantes. Ele tem uma machadinha e ataca as pessoas com ela. Por isso, o pessoal da Defesa Civil chamando o nome do Senhor Bernardo, para saber se ele está ou não. Conforme for, nós podemos entrar na caverna. Se ele não estiver, a mulher costuma receber bem os visitantes.

Bernardo foi fotografado pela Defesa Civil no dia da retirada das crianças.

Em um local, já bem próximo às cavernas, é possível ver que o senhor Bernardo criou dificuldades para as pessoas passarem. Ele colocou galhos para que as pessoas não cheguem perto. Morro acima, alguns sacos pendurados em varais também servem para dificultar o acesso.

A equipe do Fantástico conseguiu chegar à entrada da caverna. Aparentemente, não tem ninguém, embora dê para sentir cheiro de carvão, o que pode significar que eles cozinharam há pouco.

Ninguém responde, mas a caverna não está abandonada. O barro está fresco. Eles ainda estão construindo no local.

O pessoal da Defesa Civil lembra o momento mais chocante do resgate: quando encontraram as crianças em um buraco, sem colchão nem coberta.

As roupas que a família usa estavam enroladas nas crianças que foram encontradas na caverna. É possível ver que são roupas muito velhas, imundas, furadas, em péssimo estado.

“Quando as encontramos, não sabíamos quem era menino ou menina. Só fomos descobrir no hospital, porque o cabelo estava comprido, nos ombros”, conta um dos membros da Defesa Civil.

Os irmãos foram levados para o hospital e se apavoraram quando viram a máquina de cortar cabelo. Ficaram ainda mais espantadas, quando ficaram diante de uma TV. “Elas tentavam pegar as imagens com a mão”, lembre Alivio Garzón.

Ninguém sabe a origem do estranho idioma falado pelas crianças. Os irmãos se comportavam de forma selvagem. “Ela me mordeu como um animal”, conta o chefe da Defesa Civil.

A prefeita de Turmequé, María Inés Osorio, aumenta o mistério sobre a família Rosales, porque, segundo ela, o pai, apesar de forçar a família ao isolamento, não é completamente ignorante. Tanto que, depois do resgate das crianças, ele foi a Bogotá, contratou advogado e está processando o governo para ter os filhos de volta.

Aos poucos, os irmãos vão se integrando à sociedade. Os mais velhos estão aprendendo espanhol. E todos, agora, têm certidão de nascimento.

Os pais ficaram na caverna. Os pequenos Rosales vivem sob os cuidados da Assistência Social e aguardam a localização de parentes ou a adoção.


VEJA O VIDEO DA REPORTAGEM: http://www.youtube.com/watch?v=EIN39B6HKIc

Colombiano obtém recorde de menor homem do mundo


06/09/2010 às 13h38 - Atualizado em 06/09/2010 às 13h38

disponível em: 



Bogotá - Edward Nino Hernández é sob vários aspectos um típico jovem colombiano de 24 anos. Adora dançar reggaeton, sonha em ter um carro - se possível, uma Mercedes - e quer conhecer o mundo. Entre as personalidades que deseja conhecer estão os atores Jackie Chan e Sylvester Stallone, além do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. 


O que faz de Edward uma pessoa distinta é seu tamanho: ele é um pouco mais alto que uma maleta e pesa apenas 10 quilos. Com 70 centímetros, o livro de recordes Guinness acaba de certificá-lo como o menor homem do mundo. 



"Aos 2 anos, ele parou de crescer", lembrou Noemí Hernández, a mãe de Edward, o mais velho de cinco irmãos. O titular anterior do recorde era He Pingping, da China, mais alto que o colombiano apenas 4 centímetros. He morreu em 13 de março. 

Apesar disso, o Guinness afirma que o reinado de Edward pode ser bem curto. Espera-se que um nepalês, Khagendra Thapa Magar, torne-se o menor homem do mundo em 14 de outubro, quando cumprir 18 anos. Com 56 centímetros, ele já foi reconhecido pelo Guinness como o menor adolescente do mundo. 

Os pais de Edward dizem que os médicos nunca conseguiram explicar o fato de o filho ser tão pequeno. "Nunca nos deram um diagnóstico", disse a mãe, em seu modesto apartamento no bairro de Bosa, no sul de Bogotá. Noemí Hernández, de 43 anos, disse que Edward pesava apenas 1,5 quilo ao nascer. Os médicos da Universidade Nacional da Colômbia estudaram o caso até os três anos, segundo a mãe, mas depois perderam o interesse no caso. 




Estatura 


Ela e o esposo, um segurança, perderam, em 1992, uma filha também bastante pequena, quando ela ia completar um ano. O caçula do casal, Miguel Angel, de 11 anos, mede 93 centímetros e tem traços faciais similares ao do irmão agora famoso. Os outros três irmãos são de estatura e aparência normais. 

"Estou feliz porque sou único", disse Edward. Apesar disso, ele tem problemas: sofre de catarata nos dois olhos, o que atrapalha sua visão. "Não vê bem, não pode ler", contou a mãe. Inteligente e risonho, Edward acabou repetindo de série várias vezes na escola, até abandonar os estudos de vez na 8ª, disse a mãe. Tinha dificuldades para escrever, por seus dedos serem muito pequenos para segurar o lápis adequadamente. É muito sociável e gosta de viajar e jogar dominó e damas, mas "o que o deprime é ficar fechado em casa", disse a mãe. 

Ao folhear as páginas de uma edição antecipada do Livro de Recordes Guinness 2011, a ser lançada na próxima semana, a mãe mostra a Edward a foto da menor mulher do mundo, uma indiana. O jovem não demonstra o menor interesse pela pequena. 



Edward garantiu já ter namorada. Ela tem 18 anos, chama-se Fanny e mede 1,5 metro. Ele ganha algum dinheiro dançando em lojas de departamento para atrair clientes e está trabalhando em um filme no qual representa um jovem envolvido com o narcotráfico. Em sua cena mais importante, Edward se vê em meio a um tiroteio. Seu personagem não sobrevive às balas. 



REPULSA AO SEXO - Maria Rita Kehl

18 de setembro de 2010 | 0h 00
Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo



 (Uma discussão)
Entre os três candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas, não sabemos a verdadeira posição de Dilma e de Serra. Declaram-se contrários para não mexer num vespeiro que pode lhes custar votos. Marina, evangélica, talvez diga a verdade. Sua posição é tão conservadora nesse aspecto quanto em relação às pesquisas com transgênicos ou células-tronco.
Mas o debate sobre a descriminalização do aborto não pode ser pautado pela corrida eleitoral. Algumas considerações desinteressadas são necessárias, ainda que dolorosas. A começar pelo óbvio: não se trata de ser a favor do aborto. Ninguém é. O aborto é sempre a última saída para uma gravidez indesejada. Não é política de controle de natalidade. Não é curtição de adolescentes irresponsáveis, embora algumas vezes possa resultar disso. É uma escolha dramática para a mulher que engravida e se vê sem condições, psíquicas ou materiais, de assumir a maternidade. Se nenhuma mulher passa impune por uma decisão dessas, a culpa e a dor que ela sente com certeza são agravadas pela criminalização do procedimento. O tom acusador dos que se opõem à legalização impede que a sociedade brasileira crie alternativas éticas para que os casais possam ponderar melhor antes, e conviver depois, da decisão de interromper uma gestação indesejada ou impossível de ser levada a termo.
Além da perda à qual mulher nenhuma é indiferente, além do luto inevitável, as jovens grávidas que pensam em abortar são levadas a arcar com a pesada acusação de assassinato. O drama da gravidez indesejada é agravado pela ilegalidade, a maldade dos moralistas e a incompreensão geral. Ora, as razões que as levam a cogitar, ou praticar, um aborto, raramente são levianas. São situações de abandono por parte de um namorado, marido ou amante, que às vezes desaparecem sem nem saber que a moça engravidou. Situações de pobreza e falta de perspectivas para constituir uma família ou aumentar ainda mais a prole já numerosa. O debate envolve políticas de saúde pública para as classes pobres. Da classe média para cima, as moças pagam caro para abortar em clínicas particulares, sem que seu drama seja discutido pelo padre e o juiz nas páginas dos jornais.
O ponto, então, não é ser a favor do aborto. É ser contra sua criminalização. Por pressões da CNBB, o ministro Paulo Vannuchi precisou excluir o direito ao aborto do recente Plano Nacional de Direitos Humanos. Mas mesmo entre católicos não há pleno consenso. O corajoso grupo das "Católicas pelo direito de decidir" reflete e discute a sério as questões éticas que o aborto envolve.
O argumento da Igreja é a defesa intransigente da vida humana. Pois bem: ninguém nega que o feto, desde a concepção, seja uma forma de vida. Mas a partir de quantos meses passa a ser considerado uma vida humana? Se não existe um critério científico decisivo, sugiro que examinemos as práticas correntes nas sociedades modernas. Afinal, o conceito de humano mudou muitas vezes ao longo da história. Data de 1537 a bula papal que declarava que os índios do Novo Continente eram humanos, não bestas; o debate, que versava sobre o direito a escravizar-se índios e negros, estendeu-se até o século 17.
A modernidade ampliou enormemente os direitos da vida humana, ao declarar que todos devem ter as mesmas chances e os mesmos direitos de pertencer à comunidade desigual, mas universal, dos homens. No entanto, as práticas que confirmam o direito a ser reconhecido como humano nunca incluíram o feto. Sua humanidade não tem sido contemplada por nenhum dos rituais simbólicos que identificam a vida biológica à espécie. Vejamos: os fetos perdidos por abortos espontâneos não são batizados. A Igreja não exige isso. Também não são enterrados. Sua curta existência não é imortalizada numa sepultura - modo como quase todas as culturas humanas atestam a passagem de seus semelhantes pelo reino desse mundo. Os fetos não são incluídos em nenhum dos rituais, religiosos ou leigos, que registram a existência de mais uma vida humana entre os vivos.
A ambiguidade da Igreja que se diz defensora da vida se revela na condenação ao uso da camisinha mesmo diante do risco de contágio pelo HIV, que ainda mata milhões de pessoas no mundo. A África, último continente de maioria católica, paupérrimo (et pour cause...), tem 60% de sua população infectada pelo HIV. O que diz o papa? Que não façam sexo. A favor da vida e contra o sexo - pena de morte para os pecadores contaminados.
Ou talvez esta não seja uma condenação ao sexo: só à recente liberdade sexual das mulheres. Enquanto a dupla moral favoreceu a libertinagem dos bons cavalheiros cristãos, tudo bem. Mas a liberdade sexual das mulheres, pior, das mães - este é o ponto! - é inadmissível. Em mais de um debate público escutei o argumento de conservadores linha-dura, de que a mulher que faz sexo sem planejar filhos tem que aguentar as consequências. Eis a face cruel da criminalização do aborto: trata-se de fazer, do filho, o castigo da mãe pecadora. Cai a máscara que escondia a repulsa ao sexo: não se está brigando em defesa da vida, ou da criança (que, em caso de fetos com malformações graves, não chegarão a viver poucas semanas). A obrigação de levar a termo a gravidez indesejada não é mais que um modo de castigar a mulher que desnaturalizou o sexo, ao separar seu prazer sexual da missão de procriar. 

Famílias afegãs vestem filhas como meninos para evitar vergonha

The New York 
Times
Jenny Nordberg 
Em Cabul (Afeganistão)







Mehran Rafaat é como muitas meninas da cidade. Ela gosta de ser o centro das atenções. Muitas vezes se frustra quando as coisas não saem do jeito dela. Como suas três irmãs mais velhas, fica ansiosa em descobrir o mundo do lado de fora do apartamento da família em seu bairro de classe média em Cabul. 
Contudo, quando sua mãe, a parlamentar Azita Rafaat, veste as crianças para a escola de manhã, há uma diferença importante. As irmãs de Mehran colocam vestidos pretos e lenços no cabelo apertados sobre seus rabos-de-cavalo. Já Mehran coloca calças verdes, camiseta branca e uma gravata, e sua mãe afaga com a mão seu cabelo curto e preto. Depois disso, a filha sai pela porta -como um menino. 
Não há estatísticas sobre quantas meninas se passam por meninos. Mas quando perguntadas, várias gerações de afegãos contam histórias de uma parenta, amiga, vizinha ou colega de trabalho que cresceu vestida de menino. Para aqueles que sabem, essas crianças muitas vezes não são chamadas nem de filha nem de filho nas conversas, mas de “bacha posh”, que literalmente significa “vestida como menino”, em dari. 
Por meio de dezenas de entrevistas conduzidas em vários meses, nas quais as pessoas preferiram permanecer anônimas ou usar somente seus primeiros nomes com medo de serem identificadas, foi possível acompanhar a prática que permaneceu quase ignorada pelos estrangeiros. Ainda assim, é comum em todos os estratos afegãos, comum às diferentes classes, níveis de educação, etnia ou geografia e perdura apesar de muitas guerras e diferentes governos. 
As famílias têm muitas razões para fingir que suas meninas são meninos, inclusive necessidade econômica, pressão social para terem filhos e, em alguns casos, uma superstição que, ao fazerem isso, promoverão o nascimento de um verdadeiro menino. Na falta de um garoto, os pais decidem criar um, cortando o cabelo de uma filha e vestindo-a com roupas típicas de homens. Não há restrições religiosas ou legais específicas para a prática. Na maior parte dos casos, a volta ao feminino acontece quando a criança entra na puberdade. Os pais quase sempre tomam essa decisão. 
Em uma terra onde os meninos são mais valorizados, já que somente eles podem herdar os bens dos pais e transmitir seu nome, as famílias sem filhos homens são objetos de pena e desdém. Até mesmo um filho inventado aumenta o status da família, ao menos por alguns anos. Um “bacha posh” também pode receber educação com mais facilidade, trabalhar fora de casa e até escoltar suas irmãs em público, liberdades que não são possíveis para as meninas em uma sociedade que segrega estritamente os homens e as mulheres. 
Para alguns, a mudança pode ser desorientadora ou liberadora, deixando as mulheres em um limbo entre os dois sexos. 
“Sei que é muito difícil para vocês entenderem porque uma mãe faz uma coisa dessas coisas com sua filha mais jovem, mas eu preciso dizer que algumas coisas acontecem no Afeganistão que realmente não são imagináveis para vocês do Ocidente”, disse Rafaat em inglês imperfeito, em uma de muitas entrevistas durante semanas. 
Pressão para ter um menino 
No dia fatídico em que ela se tornou mãe pela primeira vez -7 de fevereiro de 1999 - Rafaat sabia que tinha fracassado, mas estava exausta demais para falar, tremendo de frio no chão da pequena casa da família na província de Baghis. 
Ela tinha acabado de dar à luz -2 vezes- às irmãs mais velhas de Mehran, Benafsha e Beheshta. A primeira gêmea nasceu depois de quase 72 horas de trabalho de parto, prematura de um mês. A menina pesava apenas 1,2 kg e não respirou a princípio. A irmã nasceu dez minutos depois e também estava inconsciente. 
Quando a sogra começou a chorar, Rafaat sabia que não era de medo das netas não sobreviverem. A idosa estava desapontada.
“Por que estamos recebendo mais meninas na família?”, gritava, de acordo com Rafaat. 
Rafaat foi criada em Cabul, onde era ótima aluna, falava seis línguas e nutria sonhos de se tornar médica. Contudo, o pai forçou-a a se tornar a segunda esposa de seu primeiro primo, ela teve que se submeter e se tornar a esposa de um agricultor analfabeto em uma casa rural sem água corrente ou eletricidade, onde a sogra governava e onde ela deveria cuidar das vacas, ovelhas e galinhas. Ela não se saiu bem. 
Os conflitos com a sogra começaram imediatamente, enquanto a nova senhora Rafaat insistia em maior higiene e mais contato com os homens na casa. Ela também pedia que a sogra parasse de bater na primeira mulher do marido com sua bengala. Quando Rafaat finalmente quebrou a bengala em protesto, a senhora exigiu que o filho, Ezatullah, controlasse sua nova mulher. 
Ele o fazia com um bastão de madeira ou um arame. 
“No corpo, no rosto”, lembra-se. “Eu tentava detê-lo. Eu pedia que ele parasse. Algumas vezes nem pedia”. 
Logo, ela ficou grávida. A família tratou-a ligeiramente melhor quando ela ficou barriguda. 
“Eles esperavam um menino desta vez”, explicou. 
A primeira mulher de Ezatullah Rafaat tinha dado à luz a duas filhas, uma das quais morrera ainda criança, e ela não podia mais conceber. Azita Rafaat pariu duas meninas, o dobro do desapontamento. 
Azita Rafaat enfrentou pressão constante para tentar novamente, o que ela fez, em duas outras gestações, quando ela teve mais duas filhas -Mehrangis, hoje com 9, e finalmente Mehran, de 6. 
Quando perguntamos se tinha pensado em deixar o marido, ela reagiu com completa surpresa. 
“Eu pensava em morrer”, disse ela. “Mas nunca pensei em divórcio. Se eu tivesse me separado do meu marido, teria pedido meus filhos, e eles não teriam direitos. Não sou de desistir.” 
Hoje, ela está em uma posição de poder, ao menos no papel. É uma das 68 mulheres no parlamento de 249 membros da Afeganistão, representando a província de Badghis. O marido dela está desempregado e passa a maior parte de seu tempo em casa. 
“Ele é meu marido do lar”, brincou. 
Ela o persuadiu a mudar-se para longe da sogra e ofereceu-se para contribuir para a renda da família, estabelecendo a base para sua vida política. Três anos depois de casada, após a queda do Taleban em 2002, ela começou a se voluntariar para trabalhar com saúde para várias organizações não-governamentais. Hoje ela faz US$ 2.000 (em torno de R$ 3.500) por mês como membro do Parlamento. 
Como política, ela trabalha para melhorar os direitos da mulher e o Estado do direito. Ela concorreu à reeleição no sábado e, com base nas contagens preliminares, está otimista que vai conquistar o segundo mandato. Mas ela só pode concorrer com a permissão explícita do marido, e da segunda vez, ele não foi facilmente persuadido. 
Ele queria tentar ter um filho novamente. Seria difícil combinar a gravidez e outro filho com o trabalho, disse ela -e ela sabia que poderia ter outra menina de qualquer forma. 
Mas a pressão para ter um filho se estendia para além do marido. Era o único assunto que envolvia seus eleitores quando ela visitava suas casas, disse ela. 
“Quando você não tem um filho no Afeganistão, é como se tivesse um buraco enorme em sua vida. Como se você tivesse perdido a coisa mais importante da vida. Todo mundo sente pena de você”, explica. 
Como política, também se espera dela que ela seja uma boa esposa e mãe; em vez disso, ela parecia uma mulher fracassada para seus eleitores. As fofocas se espalharam para sua província, e seu marido também foi questionado e passou vergonha, disse ela. 
Em uma tentativa de preservar seu emprego e aplacar seu marido, assim como evitar a ameaça de ele tomar uma terceira mulher, ela propôs que eles fizessem a filha caçula parecer um menino. 
“As pessoas entravam na nossa casa sentindo pena de nós porque não tínhamos um filho”, lembra-se. “E as meninas? Não podíamos deixar que saíssem de casa. E se nós transformássemos Mehran em menino, teríamos muito mais liberdade na sociedade para ela. E poderíamos enviá-la para fora para fazer compras e ajudar o pai.” 
Nenhuma hesitação 
Juntos, os pais conversaram com a filha mais jovem. Eles fizeram uma proposta sedutora: “Você quer ficar parecendo um menino, se vestir como um menino e fazer coisas mais divertidas como os meninos, como andar de bicicleta, jogar futebol e críquete? E você gostaria de ser como seu pai?” 
Mehran não hesitou em dizer sim. 
Naquela tarde, o pai levou a filha para o barbeiro, onde seu cabelo foi cortado curto. Depois, foram ao bazar, onde ela ganhou roupas novas. Seu primeiro conjunto parecia uma roupa de caubói, disse Rafaat, referindo-se a um par de jeans e uma camisa vermelha com “superstar” escrito nas costas. 
Ela até recebeu um nome novo –chamada originalmente de Manoush, seu nome mudou para Mehran, mais masculino. 
A volta de Mehran à escola -com calças e sem as marias-chiquinhas- aconteceu sem grande reação de seus colegas. Ela ainda tirava uma soneca de tarde com as meninas e mudava roupa em uma sala separada dos meninos. Alguns de seus colegas ainda a chamavam de Manoush, enquanto outras a chamavam de Mehran. Mas ela sempre se apresentava como um menino. 
Khatera Momand, diretora da escola, com menos de um ano no cargo, disse que sempre presumira que Mehran era um menino, até ajudá-la a colocar os pijamas certa tarde. 
“Foi uma surpresa para mim”, disse ela. 
Porém, depois que Rafaat ligou para a escola explicou que a família tinha apenas duas meninas , Momand compreendeu perfeitamente. Ela tinha tido uma amiga na academia de professores que se vestia como menino. 
Hoje, os parentes da família e colegas sabem o verdadeiro sexo de Mehran, mas a aparência de um filho diante dos convidados e desconhecidos é suficiente para manter a família funcionando, disse Rafaat. Ao menos por enquanto. 
O pai de Mehran disse que se sentia mais próximo dela do que de suas outras filhas e pensava nela como um filho. 
“Estou muito feliz”, disse ele. “Quando as pessoas agora me perguntam, digo que sim, e elas vêem que eu tenho um filho. Então elas ficam quietas, e eu fico quieto.”
Tradução: Deborah Weinberg


Já está disponível na web a nova edição da Revista de Saúde Sexual e Reprodutiva de Ipas Brasil.

Acesse a edição completa no endereço: http://www.ipas.org.br/revista/set10.html  Abaixo você encontrará o Editorial com links para algumas seções da revista. Para ter acesso às publicações anteriores, acesse "Revista Eletrônica" no site do Ipas Brasil no endereço: http://www.ipas.org.br


Edição completa – Setembro 2010 - http://www.ipas.org.br/revista/set10.html


Nesse ano de 2010, o Dia Latino Americano de Luta pela Descriminalizaçao do Aborto – 28 de setembro – é seguido pelas eleições em nosso país. O tema dos direitos reprodutivos tem sido incluído nos debates de candidatos e na mídia em geral. Esperamos que os futuros governantes cumpram com seus compromissos políticos de revisarem as leis discriminatórias e implementem políticas de saúde inclusivas para agenda democrática, a igualdade entre homens e mulheres e o alcance da justiça social.
Por ocasião do dia 28 de setembro, Ipas Brasil convida a tod@s para aderirem à campanha 10 razões para votar contra o Estatuto do Nascituro lançada pelas Jornadas Brasileiras pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro, pois viola os direitos reprodutivos das mulheres.
Com o objetivo de auxiliar no debate em torno dos temas da saúde e direitos reprodutivos das mulheres brasileiras, várias organizações parceiras como o Grupo Curumim, Fórum de Mulheres de Pernambuco, Rede Feminista de Saúde, Jornadas pelo Aborto Legal e Seguro e o CFEMEA lançam uma série de ações para fomentar a inclusão dos mesmos na falas agenda política dos candidatos/as. As peças de comunicação dessas campanhas foram produzidas, de forma conjunta, com mulheres de várias classes sociais. Os textos de áudio e vídeo, além dos cartões postais e folhetos abrangem diversos assuntos desde o enfrentamento à violência contra a mulher, combate ao racismo, geração de emprego, aborto e liberdade religiosa. Ipas Brasil apóia e parabeniza pela realização de tais campanhas. 
Ainda, nessa edição da Revista Eletrônica, apresentamos O “DOSSIÊ SOBRE ABORTO INSEGURO PARA ADVOCACY: O IMPACTO DA ILEGALIDADE DO ABORTAMENTO NA SAÚDE DAS MULHERES E NA QUALIDADE DA ATENÇÃO À SAÚDE REPRODUTIVA EM CAMPO GRANDE E CORUMBÁ, MATO GROSSO DO SUL” que faz parte de uma série dossiês produzidos em outros 5 estados ,com análises quantitativas e qualitativas relaçionadas ao impacto da ilegalidade do abortamento na qualidade dos serviços, na saúde das mulheres e no SUS. O Ipas Brasil visa, assim, contribuir, para dar visibilidade às situações de discriminação e violência institucional relacionadas à assistência ao aborto inseguro e fortalecer a articulação e mobilização dos diversos segmentos sociais, incluindo os parlamentares, para subsidiar debates e fomentar a mudança da legislação restritiva atual no Brasil.
Aproveitamos para convidar a todos para para o nosso evento no Rio de Janeiro no dia 28 de setembro e divulgar o FÓRUM MÉDICO-JURÍDICO SOBRE ANENCEFALIA no CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA que acontecerá em Brasília no dia 24 de setembro.




INDEX
IPAS GLOBAL
"Impacto de la penalización del aborto terapéutico en la vida de mujeres y familias nicaragüenses (2006-2010)"
Karen Padilla Z. and Marta María Blandón - Publicado em Maio 2010 por Ipas CentroAmerica

BRASIL EM FOCO
"Dossiê sobre aborto inseguro para advocacy: O impacto da ilegalidade do abortamento na saúde das mulheres e na qualidade de atenção à saúde reprodutiva em Campo Grande e Corumbá, Mato Grosso do Sul"
Alexandra Lopes da Costa, Nathalia Eberhardt Ziolkowski, Beatriz Galli e Paula Viana. 2010

DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS "Criminosas ou vítimas? Documentação das violações de direitos humanos das mulheres criminalizadas por aborto"Ana Paula Sciammarella - Artigo apresentado no Fazendo Gênero 9 - Diásporas, Diversidades, Deslocamentos - 23 a 26 de agosto de 2010
SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA"Orientações para a atenção integral à saúde de adolescentes, de ambos os sexos, vítimas de violência sexual na atenção básica" Org: Leila Adesse, Patricia Castro e Adriana Mota– Publicado em 2010 por Ipas Brasil com o apoio do SUS e Ministério da Saúde
REFLEXÕES
"O Impacto da Ilegalidade do Aborto na Saúde das Mulheres e nos Serviços de Saúde em Cinco Estados Brasileiros: Subsídios para o Debate Político"
Maria Beatriz Galli e Paula Viana - Artigo apresentado no Fazendo Gênero 9 - Diásporas, Diversidades, Deslocamentos - 23 a 26 de agosto de 2010